Por Daniel González, jovem mexicano de 23 anos.
Quem és tu, Francisco? Por que me
surpreende tanto ver-te? Por que há tanta expectativa no teu redor? O que é que
vais fazer? Onde vais trabalhar?
Todas as manhãs, quando levo minha irmã
para a escola, rezamos um Pai Nosso e em seguida um Ave Maria. Não conheço
muitas mais orações; e de fato, são essas as que mais nós gostamos por sua
simplicidade e sua universalidade. Pode rezá-las qualquer um.
Por isso, hoje que estava na minha
casa, vendo o novo Papa, senti algo muito estranho quando escolheu rezar
exatamente o que eu, e milhões de católicos rezamos diariamente. Senti algo
muito estranho quando me dava conta que o novo Papa me estava fazendo rezar,
não só gritar ou aclamar seu nome. Senti algo muito estranho quando me pediu
que eu, o abençoasse e pedisse por ele, ao igual que aos meus demais irmãos,
antes inclusive de me dar a bênção. Senti algo muito estranho ao vê-lo sair singelo,
sem tantos ornatos, com gestos não de celebridade, mas de servo. Com um sorriso
que esconde tantos anos de trabalho. E olha, senti que hoje, aos meus 23 anos,
quanto me falta trabalhar.
Bem-vindo Francisco! Para uma Igreja
que está em crise; mas o esteve do primeiro dia que foi instituída e que o
estará até o dia que se termine o mundo. Bem-vindo a um mundo que te atacará,
cheio de gente que não pensa como tu, e gente que odeia no que tu acreditas.
Bem-vindo a um povo que te julgará, inclusive dentro de tua mesma casa.
Bem-vindo ao trabalho.
Hoje, Francisco, quero trabalhar
contigo. Quero seguir teu exemplo, quero me tirar meus enfeites e sair pelo
balcão a servir às pessoas. Quero lançar um sorriso ao mundo. Aos que esperam
muito de mim, pouco, ou nada; quero servi-los a todos. Aos que não opinam como
eu, quero servi-los. Aos que machuquei ou machucarei, quero servi-los. Quero
trabalhar contigo desde meu lar, nas coisas que posso fazer desde hoje. Não
quero impor minha opinião religiosa, mas quero compartilhar a verdade: que
todos somos irmãos. Que o Amor nos ama. Que esse Amor é um Pai.
Hoje, Francisco, quero ser o último na
fila. Quero ser aquele do último lugar do estacionamento, e do último em
servir-se de comer. Quero poder superar meus medos e vencer meus maus hábitos,
mas, além disso, quero passar despercebido. Quero que a gente se dê conta que
minha Igreja não está para conquistar o mundo, mas para servi-lo. Quero que
Evangelizar a todos os povos se traduza em caridade para todas as nações.
E sei que tu trabalharás comigo. Sei
que não estou só, porque o representante de minha Igreja acordará todos os dias
muito cedo para trabalhar. Sei que orarás e contemplarás, e ao mesmo tempo,
atuarás. Sei que te cozinhas todos os dias. Sei que viajavas de metrô em teu país.
Sei que nasceste de pais humildes. E sei que não fraquejarás. Sei que te atacarão,
da mesma maneira que nos ataca nossa pena quando dizemos timidamente diante dum
público: 'somos católicos'.
Hoje, saio desse balcão e grito para o
mundo que sou católico, não porque queira ser presunçoso, e tampouco porque
queira demonstrar um ponto. Faço-o porque o mundo necessita que me deixe de dar
pena dizer que vou servi-lo. Lembrar-me-ei que sou católico a próxima vez que
me dê moleza em fazer meu trabalho. A próxima vez que queira mentir a um
cliente. A próxima vez que queira colar num exame. Lembrar-me-ei também quando
em uma festa ofereçam droga, essa que a tantas famílias destrói. Lembrar-me-ei
o dia que me assaltem, ou me seqüestrem e tenha que perdoar aos que me ofendem.
Lembrar-me-ei o dia que me insultem ou critiquem e tenha que me preocupar com
eles. Lembrar-me-ei que sou católico o dia que já não queira ver minha família,
ou o dia que prefira me divertir em lugar de ir a um evento de minha irmã. Lembrar-me-ei
que existes, Tu, Francisco, como tantos antes de ti, que também tiveram que
lutar contra si mesmos. Que também tiveram que agüentar tanto. Que também
tiveram que trabalhar tanto.
Hoje saio desse closet no que vivo cada
vez que me dá pena compartilhar um estado de facebook onde se menciona a Deus.
Hoje saio dessa ignorância tão evidente em minha vida onde não conheço nada de
minha religião. Hoje me dou conta que não sou católico porque seja o melhor.
Hoje me lembro que Jesus veio a sentar-se com prostitutas e hipócritas; e por
isso mesmo, está sentado em minha vida.
Hoje, Papa Francisco, te agradeço por
aceitar o papado, te agradeço que sorrisses. Agradeço-te que saísses tão
humilde, que te inclinasses para ser abençoado por teus fiéis. Agradeço-te que te
lembrasses do Papa passado. Agradeço-te que falasses meu idioma, e que gostes
do futebol. Agradeço-te que hoje, me tenhas posto a rezar um Pai Nosso e uma
Ave Maria. Porque assim, de simples, hoje me abriste os olhos.
Francisco, a partir de hoje, eu trabalharei
contigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário